HISTÓRIA DO GRAN TURISMO
Desde os clássicos como Pole Position e Enduro, jogos de corrida sempre foram atrativos em fliperamas e em consoles caseiros. Por muito tempo, porém, a jogabilidade esbarrava na limitação técnica dos videogames da época, e pouco lembrava a sensação de pilotar um carro de verdade. Essa história começou a mudar com a chegada da série Gran Turismo, no final da década de 1990, para o PlayStation 1.
Gran Turismo 5 (Foto: Divulgação)
Criada por Kazunori Yamauchi, CEO da produtora Polyphony Digital, a franquia exclusiva da Sonypavimentou a chegada de games mais realistas, mas ainda mantendo um apelo para a diversão das partidas em arcades. Na época, apenas os simuladores para PC proporcionavam uma experiência mais próxima das provas e circuitos, mas não eram tão fáceis para iniciantes.
Do primeiro game lançado em 1997 até o Gran Turismo 5, de 2010, para PlayStation 3, a franquia de Yamauchi atraiu muita gente e causou muita polêmica, seja pelas decisões ou pelos atrasos. Entretanto, a série sempre garantiu bastante diversão a quem se aventurou pelas curvas de pistas fictícias, tais como Deep Forest, ou reais, como Laguna Seca. Continue lendo e conheça mais sobre a história da série e sua obsessão por automóveis.
Gran Turismo: licença para dirigir
O primeiro GT revolucionou o gênero de corridas
(Foto: Reprodução)
No final da década de 1990, o gênero de corrida já havia saído de estruturas simples baseadas em efeitos de zoom e escala, como Super Monaco GP e F-Zero, para uma jogabilidade tridimensional com a sensação de profundidade proporcionada pelo 3D em títulos como Virtua Racing. Ainda assim, até então, o estilo arcade ainda era a bola da vez, com Need for Speed e Ridge Racer dominando os consoles.
Observando o sucesso desses títulos, mas disposto também a inovar no mercado, Yamauchi foi convocado pela Sony para desenvolver um game definitivo de corrida. A ideia era colocar o jogador no papel de piloto, inclusive sendo necessário tirar uma habilitação para dirigir o carro.
Como resultado, a jogabilidade trouxe uma abordagem completamente diferente da concorrência na época. Parecia ser algo muito mais próximo da real sensação de guiar um automóvel, também graças ao suporte ao direcional analógico - até então novo controle do PlayStation original.
Outra grande inovação foi a possibilidade de ajustar meticulosamente a mecânica do carro, que influenciava no comportamento da máquina na pista. Claro, tudo isso exigia um bom nível de conhecimento do jogador, mas o título vinha com dois manuais (isso mesmo, dois!) detalhando a função dos componentes do veículo, além das melhores formas de pilotagem.
Com 180 carros e 11 circuitos, Gran Turismo foi festejado pelo público e crítica. O game transpirava amor por automóveis, desde as configurações até os replays cinematográficos das provas. Com gráficos incomparáveis na época, ele foi um divisor de águas: até hoje, os jogos de corrida são influenciados por esse título da Polyphony Digital. Claro, isso não significa ser impossível melhorar.
Gran Turismo 2: mais do mesmo?
Provas de rally foram um destaque em GT2
Dois anos depois, às vésperas da chegada do ano 2000, a Sony lançou ainda para o PlayStation 1 a sequência do bem sucedido Gran Turismo. Uma leve melhoria visual foi incluída, mas o game ficou muito maior, com 27 circuitos (sem incluir as versões “contra-mão”) e quase 650 carros de 50 fabricantes reais, como BMW, Peugeot e Honda.
Uma bem-vinda adição foi a de pistas de rally: agora o jogador não ficaria mais limitado ao asfalto. Dessa forma, a técnica do drift, ou seja, a derrapada para fazer uma curva de lado, ganhou mais força na jogabilidade, mas sem deixar de lado ainda o lado realista da pilotagem.
Com tanto conteúdo, a Sony foi obrigada a lançar o game em dois CDs. Em compensação, os fãs foram agraciados com uma trilha sonora e tanto, contando com ótimas bandas dos anos 1990, como Garbage, Stone Temple Pilots e The Cardigans.
GT2 mostrou toda a capacidade do PlayStation 1 com gráficos soberbos, física avançada e uma ampla oferta de conteúdo que nenhum rival chegou a tocar até então. Na época, apenas Sega GT fez alguma tentativa no Dreamcast, entretanto não chegou nem perto da qualidade do jogo da Sony. Mas novos tempos estavam chegando e, com eles, um novo console.
Gran Turismo 3: o favorito de Snoopy
GT3, um dos mais divertidos da série (Foto: Divulgação)
Lançado em 2001, Gran Turismo 3: A-Spec chegou às lojas do mundo inteiro para mostrar a força bruta do então novo console da Sony, o incrivelmente bem sucedido PlayStation 2. Com gráficos incríveis, trilha sonora competente (com presença de Lenny Kravitz e Snoopy Dog, que fez uma música especialmente para o jogo), nova estrutura de menus e um modo de carreira mais empolgante, o jogo é, até hoje, considerado como um dos melhores da série.
Apesar de ter sido um dos jogos mais vendidos para a plataforma, ainda houve quem criticasse. A quantidade de carros caiu para pouco mais de 180, ainda com omissões graves de fabricantes como Lamborghini, Ferrari e Porshe.
Algumas adições, no entanto, foram notáveis. A Formula 1 (notavelmente datada para carros com aparência da temporada de 1994, talvez em homenagem ao piloto Ayrton Senna na época da Williams, pouco antes de sua morte) e o suporte ao periférico volante GT Force da Logitech fizeram do game um clássico para o PS2 que mantém a diversão da série, mas com visual muito mais renovado.
Até porque é difícil esquecer os replays bem trabalhados e o visual apocalíptico do horizonte na pista Laguna Seca a bordo de um Nissan Skyline. Após essa versão, a série passaria a tomar um novo rumo, já precisando enfrentar a concorrência.
Gran Turismo 4: colírio para os olhos
O belo circuito Costa di Amalfi em Gran Turismo 4 (Foto: Divulgação)
Após um ano e meio de atrasos, a Polyphony Digital lançou a quarta versão de sua já clássica série de corrida em dezembro de 2004. Mais uma vez, o designer Kazunori Yamauchi levou o PlayStation 2 no limite ao oferecer um visual realista, animação a suaves 60 fps e opção até de exibir gráficos em alta definição 1080i (ou seja, o mesmo da transmissão da TV Digital brasileira), além de tela em formato wide (16:9).
Mais grandiosidade: 80 fabricantes oferecem mais de 700 carros (passando pelo Daimler Motor Carriage de 1886 até o conceito da Nike de 2022) para se digladiarem em 51 pistas, incluindo o mortal circuito alemão Nürburgring na versão Nordshcleife, com seus 20,8 km de curvas estreitas intermináveis. De volta está a Fórmula 1, mas agora representada por bólidos (ainda fictícios, mas bem mais atualizados) chamados de Formula GT. Tudo isso em um DVD de camada dupla para aguentar tantos dados gravados.
Os menus ficaram diferentes também e todo o game ganhou um ar mais sério. Isso influenciou no desenvolvimento: a inteligência artificial dos oponentes ficou um tanto sem graça, gerando muitas críticas. A adição do modo B-spec, colocando o jogador no papel de “técnico” de um time de pilotos virtuais, só reforçou o aspecto “vitrine” do GT4.
Mais críticas vieram do sistema de danos: simplesmente inexistente. Como em todos os demais títulos, os carros em Gran Turismo parecem feitos de plástico, batendo sem maiores consequências para o jogador – às vezes, é possível até utilizar outro veículo ou algum elemento da pista para bater e fazer uma curva de modo mais rápido. Aliás, atalhos também foram alvo de reclamações, permitindo trapacear facilmente em algumas provas.
Independente disso, mais uma vez o game fez muito sucesso de crítica e público. A Polyphony Digital chegou a testar uma versão com recursos de multiplayer online na Ásia, mas ela não foi incluída no jogo oficialmente. Tudo isso foi preparando o terreno para o próximo Gran Turismo, mais uma vez chegando com um novo console. Ou não…
Gran Turismo 5 Prologue/HD: cara, cadê meu carro?
GT Prologue: ao menos tinha Ferrari (Foto: Divulgação)
Em 2006, a Polyphony Digital parecia reticente em atender às demandas da Sony e dos fãs por um novo capítulo da série. Após o sucesso de GT4 e seu impressionante (para a época, claro) visual em HD, era mais do que natural haver expectativas altas por uma versão para o recém-lançado PlayStation 3. De fato, durante a apresentação do console, já havia sido exibido uma demo técnica de um novo Gran Turismo.
Dessa forma, em dezembro foi lançado o jogo Gran Turismo HD. Curto, com pouquíssimo conteúdo (apenas dez carros – muito pouco, ainda mais se comparado com o título anterior), logo foi descontinuado para dar lugar a mais um produto ainda incompleto, mas muito mais duradouro: Gran Turismo 5 Prologue.
Lançado em março de 2008 nos Estados Unidos, tanto em versão para download na PlayStation Storequanto em Blu-ray, GT5P contava com 70 carros, seis pistas e multiplayer online para até 16 jogadores simultâneos. A intenção era dar uma espécie de preview do Gran Turismo 5. Uma espécie de demo glorificada, vendida a uma preço relativamente baixo.
Ainda assim, o jogo fez bastante sucesso por conta da imensa expectativa por um novo título da série de Yamauchi no PS3. Os gráficos em Full HD rodando a 60 fps (apenas no gameplay, no review cai para 30 fps) encheram os olhos dos fãs. Entre as novidades, a inédita visão interna no carro, com mostradores como velocímetro e hodômetro funcionando normalmente. Outra boa adição foi a chegada oficial da Ferrari, incluindo o modelo 2007 da fabricante na Fórmula 1.
Ainda assim, a chegada do game foi praticamente um aviso: ainda iria demorar para o GT5 completo sair. Os atrasos acabaram virando padrão na Polyphony Digital.
Gran Turismo (PSP): fim de carreira
Gran Turismo roda a incríveis 60 fps no PSP
(Foto: Reprodução)
Em 11 de maio de 2004, a Sony anunciou na feira de games E3 o seu então futuro portátil, o PlayStation Portable. Com ele, no mesmo dia, foi prometida a versão do Gran Turismo 4 para o novo miniconsole. Os anos passaram e nada da produtora entregar o título, alegando estar ocupada com os outros jogos para os consoles maiores.
Em 2009, já era considerado o “Chinese Democracy” (referência ao disco da banda Guns'n Roses, que levou cerca de 10 anos para ser lançado) do PSP. Por isso mesmo, para o espanto de muitos, Yamauchi anunciou durante a E3 daquele ano que o game enfim seria realmente lançado, exibindo uma demo jogável durante o evento. Simplesmente intitulado de Gran Turismo (para deixar claro se tratar de um título “completo”, como disse o designer), o jogo chegaria junto com o PSP Go em outubro, tanto em formato digital para o novo console quanto em UMD para as versões anteriores do portátil.
Com mais de 800 carros e 45 pistas, o jogo não era exatamente tímido em conteúdo como as versões até então lançadas para o PlayStation 3, mas uma omissão foi muito sentida pelos jogadores: simplesmente não havia mais o A-spec, ou seja, não havia um modo de carreira. O game inteiro é baseado em progressão livre de qualquer pista, cada uma com os níveis de dificuldade D, C, B, A e S, nesta ordem, desbloqueáveis de acordo com a quantidade de partidas. Não importa que se chegue em último em todas as provas, eventualmente se chegará ao nível S em qualquer circuito.
Além disso, a Polyphony omitiu um dos recursos mais amados na série: a personalização dos carros por meio de upgrade de peças. O máximo a ser feito no GT PSP era regular as máquinas, ainda assim somente no caso de se colocar o veículo como “favorito”, com apenas 20 slots disponíveis. Dessa forma, houve alguma decepção em relação ao título.
Claro, é preciso se considerar as limitações técnicas da plataforma. O jogo é um dos únicos para o PSP a rodar a 60 fps sólidos (clique aqui para conferir um vídeo fiel à taxa de quadros por segundo), inclusive noreplay, o que deixa com um aspecto realista pela fluidez. As texturas são em resolução muito baixa, mas os carros são renderizados com excelente resultado.
Além de tudo, houve a adição do modo de licença como opcional, liberando a jogatina de modo muito mais rápido para quem não quer fazer intermináveis testes de freio e curvas. Outra novidade foi a inclusão oficial de carros da Lamborghini e Bugatti, além da presença da Ferrari F1 2007 e da F 340 de passeio.
No geral, Gran Turismo é um dos melhores jogos para o PSP disponíveis atualmente e pode oferecer várias horas de diversão. Afinal, ter a possibilidade de pilotar 99 voltas em Nürburgring em um console portátil é, no mínimo, uma experiência única, que pode ser curtida escutando suas próprias músicas em MP3 instaladas no aparelho. Recurso reutilizado um ano mais tarde na versão definitiva da série, para o bem ou para o mal.
Gran Turismo 5: haja espaço
Gran Turismo 5 foi criticado, mas melhorou com atualizações (Foto: Divulgação)
Mais de mil carros, 76 pistas diferentes, multiplayer para até 16 jogadores simultâneos online e, enfim, a inclusão de um sistema de danos nos veículos. Demorou cinco anos, mas finalmente os donos doPlayStation 3 puderam ter em mãos o tão sonhado Gran Turismo 5, a versão completa. Ou assim pensaram.
Logo no lançamento, GT5 já chegou com a necessidade de instalação no disco rígido do console e atualizações para corrigir problemas. Logo depois, mais updates necessários para mais consertos. E muito mais, até hoje.
Além disso, o sistema de danos parecia meramente cosmético, os gráficos apresentavam bugs e serrilhados, o som de alguns carros foi considerado pouco realista, os menus complicados e os tempos deloading uma eternidade. Sem contar a falta de detalhamento nos veículos da categoria Standard, importados diretamente do GT4 e da versão para PSP – somente 25% das máquinas disponíveis eram Premium, com visão no interior e modelagem em alta definição.
Tudo isso gerou uma imensa crítica em relação ao jogo. Não mais a série reinava absoluta no coração dos aficionados por corrida em consoles, a franquia Forza, da Turn 10 exclusiva para o Xbox 360, já havia estabelecido um nível de comparação complicado para a Polyphony.